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O suicídio sob uma nova luz, para além do Setembro Amarelo

Atualizado: 11 de out. de 2023


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O suicídio não é seletivo, ele atinge qualquer pessoa, em qualquer circunstância ou local e alguns estudiosos acreditam que o suicídio seja de fato uma epidemia contagiosa e pode-se espalhar. (ANGERAMI-CAMON, 1986).


Apesar de hoje se falar muito sobre o assunto e ter um mês todo voltado para sua prevenção, o suicídio ainda é visto como assunto proibido, permeado de estigmas e tabu, por este motivo é importante explanar algumas situações que podem servir como alerta tanto para você, como para as pessoas ao seu redor. Quanto mais informações sobre o assunto, teremos mais compreensão sobre esse fenômeno e suas possibilidades de prevenção.


DA CRISE AO SUICÍDIO


A crise pode ser vista em várias fases da vida e não necessariamente está relacionada a algo ruim. Mas se falarmos sobre o indivíduo que paralisa diante de alguma situação, podemos entende-la como uma impossibilidade psicológica e individual de resolver os problemas que surgem, somado com um estado de desequilíbrio emocional que, pode ser proporcionado por mudanças significativas, mesmo que não sejam negativas.


Mas existe um momento específico e extremo, onde ocorre essa perda de sentido e está relacionada com a perda de um sonho – o sonho pode ser entendido como algo desejado ou conquistado pelo sujeito. Ao se deparar com essa perda, o sujeito fica entre duas vivências, ao mesmo passo que tem clareza e lucidez sobre a situação, quando o inevitável momento de agir chega, ele sente-se completamente paralisado, sem ter motivos para agir. O indivíduo não consegue visualizar nada além da sua dor, mesmo com o apoio de pessoas próximas, porque sem o sonho, nada mais faz sentido, tudo se torna vazio e ele não consegue articular nenhum tipo de relação. (POMPEIA E SAPIENZA, 2004)


Chegam muitos relatos no consultório, sobre a insatisfação com o trabalho, seja no cargo que ocupa, ou em como o ambiente é estressante, existem muitas cobranças, tanto na vida profissional, quanto pessoal e a partir daí começa a falta de perspectiva. O escritor e psiquiatra Yalom, em sua obra “Quando Nietzche Chorou” (2005, p. 138), fala que “a pessoa não escolhe ou seleciona uma doença, mas escolhe o estresse e é o estresse que escolhe a doença”, ninguém pensa em ficar doente, mas quando o indivíduo não consegue ressignificar as situações difíceis que vivencia em sua existência e passa a dar atenção integral a elas, acaba cristalizado, e pode evoluir a um estado depressivo.


Sem a possibilidade de sair do local adoecedor, os indivíduos vão postergando a sua saída e com isso vem os transtornos mentais, como depressão e ansiedade. A depressão é uma doença multifatorial e pode ser decorrente de algum evento ou até mesmo de desorganização hormonal. De acordo com o site da Organização Pan-Americana da Saúde (PAHO), estima-se que em todo o mundo, mais de 300 milhões de pessoas, independentemente da idade, cultura ou classe social sofram com a depressão, sendo as mulheres mais afetadas que os homens.


Os principais sintomas são humor triste e o desânimo que surgem em qualquer momento da vida, porém nas síndromes depressivas, estes sintomas são demasiadamente desproporcionais e duradouros; bem como afetivo, humor, psicomotricidade, instintiva, neurovegetativa, inclusive alteração ideativa, onde se encaixa a ideação suicida, seguido ou não pelo suicídio. Estes sintomas depressivos aparecem com mais frequência após uma perda significativa, seja dentro de qualquer esfera da vida do sujeito, podendo ser confundida com o processo de luto, pois os sentimentos são parecidos e pode ser difícil realizar essa separação.


A depressão é um dos transtornos mentais com maior número de incidência dos suicídios, chegando a ser 90% dos casos, porém não é sua única razão, outros transtornos mentais podem ser relacionados com o ato, existe também o risco de suicídio em indivíduos internados em hospitais gerais. Além destas mencionadas, ainda existem alguns estudos relacionando o suicídio com o uso excessivo de bebidas alcoólicas e outras drogas, levando em consideração os casos de acidentes de trânsitos, overdoses, etc.; predisposição biológica; vale ressaltar que nenhum estudo consegue abarcar um motivo específico para o suicídio.


Algumas condições consideradas de riscos pela ABP (2014) são: desesperança, desespero, desamparo e Impulsividade; idade; gênero; doenças clínicas não psiquiatras crônicas (tais como câncer, AIDS, etc.); acontecimentos desastrosos na infância e adolescência; histórico familiar/genética.


A prevenção do suicídio começa a partir do momento que é identificado estes riscos, porém não existe uma métrica exata sobre isso. A identificação dos riscos auxiliam e orientam os profissionais para o manejo com o cliente e a ordem de prioridade nas ações durante as sessões. No entanto, esses riscos não são estáticos, tampouco precisos, podem transitar entre o risco crônico, quando existem pensamentos suicidas, mas a probabilidade de ocorrência seria de longo prazo); e o risco agudo, quando a probabilidade seria eminente.


O diagnóstico correto é importante para que o indivíduo possa ser ajudado de acordo com a sua necessidade, mas não se pode utilizar o diagnóstico como rótulos, o indivíduo não é sua doença, ele está doente. É preciso ir além e enxergar o sujeito em sua totalidade e na forma como ele enxerga o mundo a sua volta, pois sabe-se que pessoas em sofrimento apenas estão lidando com a situação da melhor forma que encontraram. (CARRENHO; TASSINARI; PINTO, 2010)


Para tanto se faz necessário que o sujeito expresse o que sente, o que a angústia representa e o que ela quer manifestar; O psicoterapeuta utiliza a fala para que, através dela, o sujeito ressignifique e compreenda como se constitui o seu ser-no-mundo. Somente assim deixa de ser um sentimento sufocante e se transforma em outro sentimento, pois permite que o sujeito encontre um “novo mundo”, mesmo que nada tenha mudado de fato, o que modificou foi a forma como o sujeito passa a enxergar a realidade. (AMATUZZI, 2019)


Desta maneira, torna-se imprescindível que esse sujeito em sofrimento tenha um ambiente de escuta e essa disponibilidade do psicoterapeuta é importante para o seu crescimento. Porém, não somente a terapia, mas ter um ambiente saudável para trabalhar, pode ajudar não apenas o individuo adoecido, mas a empresa também, pois o absenteísmo tende a diminuir e a produtividade aumentar.


É importante ouvir os funcionários e pensar em melhorias não apenas estruturais, mas na forma de manejo com os funcionários. Nunca sabemos o que se passa na vida pessoal de cada pessoa, mas a empatia deve se fazer presente em todos os setores da vida.


Atualmente vivemos em uma cultura de “não sofrimento”, como se precisássemos manter apenas os sentimentos bons, não sendo possível que o sofrimento seja expressado. Todavia é importante saber que o ser humano é constituído por sentimentos e vivências, sejam bons ou ruins, como ser-no-mundo mediante estas experiências.


Ao redor, a quantidade de pessoas que fazem uso de medicações para ansiedade, depressão, etc., em busca de alguma redução para a angústia que sentem só aumenta. Quando o sujeito não consegue nomear esse sentimento ou não enxergam outra possibilidade, decide por “matar a dor”, na certeza de que só assim seu desespero será solucionado. No entanto, o suicídio não se trata do desejo de colocar fim à vida, mas sim à angústia que o sujeito sente.


Somente através da fala o sujeito consegue abarcar o que verdadeiramente sente. Falar tem um poder de ressignificar algumas situações e proporcionar uma visão mais ampla sobre nós mesmos e nossas vivências, dar significado ao que sentimos é como se transformasse aquela situação e desta forma, conseguimos encontrar outros caminhos para percorrermos. Autora: Psicóloga Karla Wanessa Pereira da Silva - CRP 02/20740

 
 
 

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